terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Água


Nesta noite outonal tenho escolhido para banda sonora a música do filme Water, da realizadora Deepa Mehta. O filme é muito, mas mesmo muito bonito. É passado quase sempre nos ghats nas margens do Ganges. Tem um tom azul marcante, com os dias a nascerem cobertos de uma névoa leve. A água sempre presente, no rio, na chuva, na neblina quente.
A música é também assim. Aérea, fluida, misteriosa, melancólica.
Memórias de uma Índia que reconheço no branco do algodão e nos cheiros que se adivinham pelas imagens, na vida que até na morte teima em continuar. O sentimento de que algo muito antigo e em constante criação visita a terra e nos convida a ficar. A sensação que se insinua de que o silêncio aqui é criador, e que se alimenta dos ruídos e movimentos, para, a cada novo nascer do sol, os tornar luz e névoa. Para mais uma obra criadora e transbordante de vida.

Aqui vai o link da música de abertura: http://www.ijigg.com/songs/V2GECCBPA0. Esperem um pouco que a música começa. Tem também o album todo.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Chuva em Lisboa!


Ah, o cheiro a molhado! O brilho no alcatrão e nos passeios. As goteiras dos prédios a salpicar quem passa. Chuva! Embala e adormece quem pára para a ouvir passar.
Viva a chuva!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ventanias (interiores) de Outono


Antes de mais nada há que dizer que o título deste texto, excepto os parênteses, não me pertence mas foi descaradamente tirado de um espectáculo de duas importantes amigas. Por isso aqui vai o reconhecimento e a culpa formada pela abusiva apropriação do alheio. Mas é que quando lia uns textos ontem li este título e era realmente tão adequeado ao que sentia, que não hesitei. Aqui está, pois, a confissão e o agradecimento a posteriori.
Até que enfim a meteorologia está de acordo com a minha vida! Com este Outono, para além da constipação habitual de mudança de estação (e logo eu, que gosto de mudanças e alterações…) anda por aí uma ventania pessoal um pouco instável. Boa, claro, mas um pouco atrevida e intrometida na minha estabilidade que me tenho prezado por ir construindo. A vida em Lisboa vai lentamente começando a fazer sentido de modo mais consistente, e agora é que o vendaval tinha de aparecer…
Ao menos sinto-me acompanhado pelo Universo. E isso é bom.
Sinto por companhia o tempo. O tempo na sua vertente atmosférica e centígrada e não propriamente na sua passagem contínua do devir universal, que mais ou menos conscientemente é apercebida pelo sujeito, ou seja, eu mesmo. Sujeito.
O vento é estranho. Aproxima o distante e afasta o que está próximo. É livre, instável, circular, desarruma, altera, não tem um caminho lógico e não tem fim à vista.
É.
(este é, esta afirmação tão concreta e tão sem conteúdo é uma espécie de homenagem a alguém que agora não vem ao caso. Enfim, memórias do passado recente).
A noção de proximidade é também ela uma coisa estranha. O que é ser próximo? Estar próximo? Sentir próximo? E nem vou entrar no significado de próximo da parábola do bom samaritano. Apenas ando às voltas com a proximidade. É surpreendente sentir-me próximo de alguém sem que isso reflicta a quase sempre existente intimidade.
Proximidade sem intimidade? Sem conhecimento?
A surpresa é a aproximação intuitiva, em que o desconhecimento é apagado face a um reconhecimento feliz, inesperado e surpreendente.
Por vezes, nessas situações raras e luminosas, não é necessário o que normalmente se designa de intimidade, para poder existir A intimidade. A verdadeira intimidade. Ou talvez a verdadeira proximidade. É quando estamos lado a lado com o desconhecido e nos sentimos bem, nós mesmos, em casa. Não nos sentimos vigiados, acusados, inquiridos. É como se nos conhecêssemos há muito tempo.
É bom, muito bom, viver que a amizade, ou o amor, ou a presença, pode nascer por ela própria sem todos os mecanismos lógicos e convencionais que utilizamos. E quando acontece, já aconteceu…
E não tenho nem culpa nem mérito de me sentir aproximado. Não sei, não conheço, não imagino, mas sinto-me cativado. Sinto-me próximo e isso deixa-me feliz. Ansioso, é certo, amedrontado, um pouco mesquinho por vezes, atento, frustrado também às vezes, mas no fundo no fundo, feliz!
Feliz por me ter acontecido tanta coisa boa. Pessoas, lugares, momentos. E ainda por cima cativado assim, de repente! Estou feliz por esta aproximação. Fico um pouco triste comigo por a não viver numa inocência que já perdi e que por vezes tento recuperar. Por pôr desejos, sonhos, sobre um acontecimento tão luminoso, pela ansiedade que pode estragar os momentos, por ser esta construção em funcionamento semi-automático de querer, desejar, programar, incluir, apropriar algo que É por si só. Existe em si mesmo. Acontecimento que me transcende e que é uma dádiva da vida, e de Deus e do seu mundo. E esta mania de querer para mim algo que não é meu. Um mundo pessoal e privado que não me pertence. Algo que chega até mim como uma brisa, que ao viver uma esquina se transforma por vezes em vendaval. Mas que me é dado. Uma dádiva. Um dom.
Um vento forte que me enche a vida com a beleza dourada do Outono.
Um acto favorável que me enche os dias de luz e imaginação.
Um momento que me preenche a memória e me lembra que o mundo está atento. Que a vida me dá o que de melhor tem, e que me ilumina a existência com aquelas raras pessoas que em si contêm as quatro estações, o sol e a lua, o vento e o céu, a brisa de um belo e emocionante entardecer, de olhos postos na profundidade do oceano e do seu infinito poder criador.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

o azul de Miró


a beleza do mundo em azul e vermelho

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

encontro em mudança


Há pessoas que nos tocam particularmente, sem sabermos porquê. São pessoas que, num impulso, num tempo rápido e fugidio nos tocam profundamente. Muitas vezes sem terem consciência do efeito que deixam nos outros.
Existe esse tipo raro, precioso de pessoas que dão ânimo, trazem vida, provocam sonhos e desejos, abrem horizontes e deixam-nos uma espécie de dorzinha chata no estômago, especialmente na hora da despedida.
São momentos valiosos esses, muito acima dos actos quotidianos, das acções e pensamentos, das decisões de todos os dias. É um privilégio ter um acontecimento assim na vida. É uma chatice também, no que toca à vida pragmática que temos de manter: o sono torna-se mais difícil (o que faz com que o empenho nos dias seguintes vá esmorecendo, coitado), a fome não aperta tanto (o que até é bom, porque precisamos de fazer menos abdominais enquanto esperamos o próximo encontro), a concentração fica pelas ruas da amargura, a paciência é pouca e ficamos com a carteira a chorar da vontadinha irresistível de ir às compras, comprar especialmente coisas que nos valorizem, que nos façam interessantes (é verdade realmente que o que torna alguém interessante não se compra, mas a razão entontece nessas alturas).
Isto de dizer nós, as pessoas, o geral, o cidadão, é uma fachada descarada. Quero dizer eu. Eu mesmo. Eu, que ando com mais dificuldade em adormecer, Eu que ando (que ninguém me contradiga neste momento difícil) um pouco mais elegante (apesar de, segundo linguagem técnica actual, precisar na mesma de tonificar e refirmar toda a zona gluteo-abdominal e peitoral), Eu, que raramente tenho vontade de comprar roupa, ficar entusiasmado com as montras, especialmente as impossíveis. Eu, que agora é que gostava de ter uma casa com uma vista maravilhosa sobre a cidade e o rio, grande, clara, límpida, cheia de coisas indianas e antiguidades, em suma, uma casa que impresionasse e que desse vontade de dizer “não me apetece ir embora”, Eu, que sem ter paciência nenhuma para isso, me autocritico por não fazer mais (é um aforismo) exercício, porque realmente um peito entroncado até ajuda a aquecer o interesse. Ou seja, uma completa tontice. Ou será que não?
Reconheço tudo isso, e aceito, vivo até com isso, até porque são tudo coisas que me faziam bem.

Mas o que mais me impressiona é o que fica sob estas mudanças à flor da pele.
É o facto de, em segundos, em momentos rápidos, indecisos, ficar tão tocado, tão marcado por alguém. É o facto de, de repente, me sentir leve, calmo, vivo, confortável, me sentir eu mesmo, sem ter nada mais para fazer ou ser senão isso. Como é que nos sentimos tão bem ao pé de alguém que acabámos de conhecer? Como é que uma pessoa nos faz sentir assim?

É um sentimento de reconhecimento.
Do outro ser e de mim mesmo. A profunda consciência de que, numa conversa rápida e não demasiado íntima, se cruzam, realmente, duas histórias de vida, dois mundos interiores, que podem tocar tão fundo e deixar uma memória tão perene. O que é que explica que, num curto espaço de tempo, o facto de nos sentarmos lado a lado me faça sentir tão seguro e transparente? Sem vontade de seduzir, ampliar, transformar, mas de me dizer com segurança, com nitidez e verdade?
E durante tudo isso, que na verdade são breves momentos, a vontade da viagem, da descoberta mútua com os horizontes largos, claros, a descoberta do mundo.
Alguém que nos faz querer descobrir o mundo todo só pode ser boa pessoa.

Mas claro, o que é bom acaba depressa, diz essa verdade incómoda popular. É verdade!
O tempo é um amigo desonesto nestas alturas.
E o depois, o depois, isso é outra conversa.
Pode tudo isso que sentimos, toda essa força luminosa que nos entra na vida, toda aquela calma e segurança, toda aquela vontade de andar em frente, ser apenas meu? Ser apenas eu? E então aquele ambiente, aquele clima, aquele silêncio tímido, aquele sorriso simpático, aquele vulto contraluz? Afinal nada disso existiu?
Parece impossível, porque o interesse despertou depois daquele sorriso, ou ao dar conta de um daqueles olhares de soslaio. Mas isso é o que senti e posso estar a dar um valor enorme a algo simples e corriqueiro.
(há pessoas realmente simpáticas, é verdade. Apenas simpáticas. E deviam ser proibidas de sair à rua, porque são simpáticas demais).
Mas será possível que esta sensação, tão verdadeira e óbvia (para mim) de que existiu algo mútuo, bonito, inesperado, surpreendente, pode ser apenas minha? Não! Não quero. Isso não. Que nada mais aconteça, que não nos conheçamos mais, já é difícil, agora que nada, mesmo nada, nem um ambientezinho de um hipotético embaraço mútuo não tenha acontecido, isso é demais.

Existem realmente, e felizmente, pessoas capazes de atrairem, de despertar ou outros. Ainda bem. Mesmo quando é difícil viver com isso, ainda bem.
Porque acontecimentos destes são raros, e bons. E continuo sem perceber como é que é possível que alguém que não conhecemos nos fique tanto na memória e nos crie insónias.
Mas o que vale é a beleza de tudo isto. De algo surpreendente, que muito raramente se sente. De que podemos descobrir num segundo a pessoa com quem poderemos querer partilhar a nossa vida. De que subitamente nos podemos sentir em casa, regressados ao que verdadeiramente somos.

Há pessoas que nos fazem dizermo-nos.
E aqui vai, no segredo natural da intimidade, o meu sincero obrigado.

P.S.
Vivam as mudanças!

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A amizade



A amizade é misteriosa. É imprevista, livre de cálculos e interesses, livre do tempo e do espaço.
A amizade é coisa boa. É uma parte tão essencial de nós mesmos que faz parte de quem somos.
As amizades longas têm o privilégio de acompanhar as transformações e as mudanças de quem as vive. Onde acabamos nós e começam os nossos amigos? O que sou eu sem quem está perto de mim e me vê como alguém próximo? Os limites não são claros, e é fácil reconhecer que não seríamos quem somos se não tivessemos as amizades que temos.
É um belo presente da vida. E é bom o facto de sermos nós porque somos com, e não somos sem. E quem eu sou está muito para além do meu corpo ou do que conheço directamente, porque o que vivem os nossos amigos vivemos nós também, de certa forma.
Os amigos fazem parte de nós. Fazem parte de mim. É bom.
O Verão, esse grande amigo, é também tempo dos rituais antigos. O prazer de nos reunirmos outra vez, agora que nos vamos espalhando pelo mundo e pelas escolhas. O mundo todo que nos é mais importante está ali, connosco. E estamos felizes, ao rirmos, ao prepararmos o almoço no alpendre, ao dedicarmo-nos uns aos outros.
E então a paisagem, a última luz do sol, as sombras do luar, o céu, o barulho do vento nas árvores, a beleza do mundo, parecem chamar-nos a atenção para o quanto é bom estarmos ali. E gostarmos uns dos outros.
As imagens são de um grande amigo, e foram tiradas num local muito especial, um segredo nosso.
Às amizades e aos amigos! tchim tchim!